terça-feira, 13 de março de 2012

VOLTAIRE



François-Marie Arouet, conhecido como Voltaire (1694-1778), nasceu e morreu em Paris. Um dos mais célebres escritores do século XVIII. Escreveu tragédia, epopéia, história, crítica, romance e filosofia, tendo se tornado notável em todos esses gêneros, mas principalmente na filosofia. Descendente da pequena nobreza européia, desde cedo destacou-se como brilhante pensador, tendo freqüentado as melhores universidades do seu tempo. Com pouco mais de 20 anos, já havia sido preso e exilado por ordem do regente Felipe de Orleans a quem havia dedicado panfletos satíricos e críticos. No seu exílio inglês escreveu as célebres Cartas inglesas ou filosóficas.
Por haver sempre atacado com energia a intolerância religiosa e defendido com calor todas as causas que lhe pareceram justas, levantou freqüentemente contra si a ira dos poderosos da época, as quais chegaram mesmo, por duas vezes, a levá-lo à Bastilha. Mas tanto pela justiça e oportunidade dos seus ataques, como pelo caráter fundamental das suas obras; tanto pela elegância do seu espírito como pela variedade de conhecimentos que mostrou possuir, exerceu em toda a França, durante mais de cinqüenta anos de incessante atividade, verdadeira soberania literária e social.
As obras que compôs são inúmeras, alcançando algumas edições completas 95 volumes. Algumas das mais importantes são: MéropeTancredoHenríadaO século de Luís XIVMicromegasZadigCândido e oDicionário filosófico.
Na vida de Voltaire há, ainda, um período que ficou célebre: o dos seus amores com a marquesa de Châtelet (1706-1749), mulher ilustradíssima e de grande formosura, que deixou várias obras e que exerceu sobre ele, durante alguns anos, bastante influência, levando-o ao estudo de Newton e de Leibnitz.
Seu derradeiro bilhete diz que “morria admirando os amigos, sem odiar os inimigos e detestando a superstição”.
Cronologia biobliográfica
1694   François-Marie Arouet nasce no dia 21 de novembro, último dos cinco filhos de François Arouet, notário, e Marguerite Daumard.
1701   Morte de sua mãe.
1704   François-Marie entra no liceu jesuíta Luis-le-Grand, depois de ter sido educado pelo abade de Châteneuf, seu padrinho.
1709-11 Já conhecido como poeta, o jovem François-Marie estuda retórica e filosofia, no que se sai com brilhantismo. Entra para a Escola de Direito.
1712   Nascimento de Jean-Jacques Rousseau.
1713   Enviado a Haya como secretário do embaixador da França, marquês de Châteneuf, irmão de seu padrinho, mantém uma ligação com uma jovem protestante, o que lhe vale a demissão do cargo e o retorno a Paris. Nascimento de Diderot.
1715   No dia 1º de setembro, morre Luiz XIV. Felipe de Orleãs torna-se regente. François-Marie escreve os primeiros contos e libera sua veia satírica, que não perdoa o regente.
1716   De maio a outubro, como conseqüência dos contos satíricos publicados, exílio em Sully-sur-Loire. Morte de Leibniz.
1717  Inicia a composição do poema Henriade. Pelas novelas satíricas contra o regente, é encarcerado na Bastilha por onze meses. Nascimento de d’Alembert.
1718   Libertado em abril, é exilado em Châtenay, quando adota o nome Voltaire, uma forma de se vingar do pai, do qual pretendia não ser filho. Sintomaticamente, em 18 de novembro se representa com sucesso sua peça Édipo.
1722   Morte de seu pai, François Arouet. Com a herança, Voltaire faz aplicações que resultam em bons rendimentos.
1723   Ligação com a senhora Bernières. Morre Felipe de Orleãs e o duque de Bourbon torna-se primeiro-ministro.
1724   Sua peça Mariamne é levada ao palco sem sucesso. Nasce Emmanuel Kant.
1726   Discussão com o cavaleiro de Rohan, que manda dar uma surra em Voltaire. Como exige o direito a um duelo, é preso na Bastilha, onde fica dois meses. Exílio na Inglaterra, onde, pelas mãos de lord Bolingbroke, relaciona-se com o círculo da alta cultura inglesa, entrando em contato com Berkeley, Swiff, Pope, estudando as instituições políticas inglesas, o pensamento de Locke, Bacon e Newton.
1728   Retorna clandestinamente à França.
1729   Retorna a Paris, onde residirá até 1733. Dedica-se a operações financeiras tortuosas e rentáveis.
1730   Conclui a História de Carlos XII. Em dezembro, primeira representação de Brutus.
1731   Como a polícia interditou a impressão de Carlos XII, Voltaire a imprime em Rouen. Ligação com a senhora Fontaine-Martel.
1732   Conclui uma versão das Cartas Filosóficas, nas quais critica o regime político francês, opondo-o ao liberalismo inglês. Morte da senhora Fontainne-Martel, em janeiro, e encontro com a senhora Châtelet, Émilie, que se torna sua amante e à qual permanecerá ligado até a morte dela. Sucesso triunfal com a tragédia Zaire.
1734   As Cartas Filosóficas são editadas na Inglaterra e na França e provocam escândalo. Para não ser preso, Voltaire se refugia na residência da senhora Châtelet, em Cyre-en-Champagne.
1735   Dedica-se a trabalhos de metafísica e física. Encenação de A morte de César.
1738   Escreve os primeiros Discursos sobre o homem e o conto Gangan.
1739   Acompanha a senhora Châtelet a Bruxelas, onde permanecerá até 1741, aproveitando para viajar à Holanda.
1740   Frederico II torna-se rei da Prússia.
1741   Começa a redação de uma obra que será o Ensaio sobre os costumes. Com a morte de Carlos VI, é declarada imperatriz sua filha Maria Tereza.
1741  Viagem a Bruxelas. Sua peça Maomé é interditada, em Paris, após a terceira representação. Frederico assina com a Áustria a paz de Breslau.
1744   Após a paz com a Prússia, a França declara guerra à Inglaterra e à Áustria. Com amigos no poder, Voltaire torna-se auxiliar do marques de Argenson, ministro dos negócios exteriores.
1745   Torna-se “historiógrafo da França”. Na ausência do rei, foi recebido por madame Pompadour e dará a entender, mais tarde, que se relacionou sexualmente com ela. Torna-se amante de madame Denis, sem separar-se de madame Châtelet. Conhece Jean-Jacques Rousseau.
1746   É eleito para a Academia Francesa. Recebe uma pensão do governo.
1747   Com a queda do marquês de Argenson, a situação de Voltaire se torna precária. Inicia Zadig.
1748   Madame Châtelet torna-se amante do poeta Saint-Lambert. Encenação de Sémiramis. Edição deZadig. Publicação de O Espírito das Leis, de Montesquieu, que não agrada a Voltaire.
1749   Madame Châtelet morre em conseqüência de complicações de parto. Voltaire escreve Catilina.
1750   Madame Dinis instala-se na residência de Voltaire. Em Portugal, o rei José I nomeia Pombal, por quem Voltaire nutre grande admiração, primeiro ministro.
1751   Trabalha na obra Século de Luís XIV. Em Portugal, Pombal extingue os autos-de-fé.
1752   Edição de Século de Luís XIV. Escreve os primeiros artigos de uma “enciclopédia da razão”. Atrito com Frederico pela sua crítica a Maupertuis.
1753   Breve reconciliação com Frederico. A caminho de Frankfurt, é seqüestrado por emissários de Frederico, que só o liberam após a restituição de manuscritos do rei que incluiu em sua bagagem.
1754   Publicação dos Anais do Império.
1755   Sem permissão para retornar à França, se instala na Suíça, nas proximidades de Genebra, onde adquire a quinta Les Délices. Em 1º de novembro ocorre o terremoto de Lisboa, que faz vinte mil mortos e leva Voltaire a colocar clara objeção ao otimismo leibniziano. Compõe o Poema sobre o desastre de Lisboa. Morre Montesquieu.
1757   Retoma a correspondência com Frederico. Segue sua atividade como polemista.
1758   Retoma a redação de Cândido. Entrega a Diderot todos os artigos que este solicitara para a Enciclopédia. Em outubro, conclui Cândido.
1759   Publicação simultânea de Cândido em Paris, Londres, Amsterdã e Genebra. A obra é condenada em Paris e em Genebra.
1760   Edita a tragédia Tancredo.
1761   Escreve as Cartas sobre a Nova Heloísa, revidando a obra A Nova Heloísa, de Rousseau.
1763   Publica o Tratado sobre a Tolerância, celebrando o triunfo da razão.
1765   Publicação de A Filosofia da História.
1767   Escreve o conto O Ingênuo, contra os abusos políticos.
1768   Publica O Homem de Quarenta Escudos, conto, sobre a corrupção e a desigualdade na distribuição de riquezas.
1772   Concluída a edição da Enciclopédia.
1774   Morte de Luís XV.
1776   Publica A Bíblia enfim explicada
1778 Voltaire prepara, a pedido de Beaumarchais, uma revisão de toda sua obra para uma edição completa. Sofre, a partir de maio, novos e severos ataques de estrangúria (dificuldade extrema de urinar). Morre no dia 30 de maio, atendido, a seu pedido, pelo abade Gautier. Deixa escrito que morria “adorando a Deus e a meus amigos, sem odiar meus inimigos e detestando a superstição”. Recebe um enterro cristão na abadia de Sullières.


Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.


Deus me defende dos amigos, que dos inimigos me defendo eu.


Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano.


Escrevo-vos uma longa carta porque não tenho tempo de a escrever breve.


O estudo da metafísica consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá.


Os infinitamente pequenos têm um orgulho infinitamente grande.


Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.


Um mérito inegável da poesia: ela diz mais e em menor número de palavras que a prosa.


Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males.


O público é uma besta feroz. Deve-se enjaulá-lo ou fugir dele.


É mais claro que o sol, que Deus criou a mulher para domar o homem.


Só se servem do pensamento para autorizar as suas injustiças e só empregam as palavras para disfarçar os pensamentos.


Aproximo-me suavemente do momento em que os filósofos e os imbecis têm o mesmo destino.


A via pela qual se ensinou durante largo tempo a arte de pensar, de certeza que é oposta ao dom de pensar.


e Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.


Respeito o meu Deus, mas amo o universo.


As paixões são os ventos que enfunam as velas dos barcos, elas fazem-nos naufragar, por vezes, mas sem elas, eles não poderiam singrar.


A alma é uma fogueira que convém alimentar, e que se apaga dado que não se aumente.


Façam o que fizerem, destruam a infâmia e amem aqueles que vos amam.


Há muito poucas repúblicas no mundo, e mesmo assim elas devem a liberdade aos seus rochedos ou ao mar que as defende. Os homens só raramente são os dignos de se governar a si mesmos.


Ensina-se os homens a serem honestos; sem isso, poucos chegariam a sê-lo.


Só fui à falência duas vezes. A primeira, quando perdi uma causa. A segunda, quando a ganhei.


Os leitores servem-se dos livros como os cidadãos dos homens. Não vivemos com todos os nossos contemporâneos, escolhemos alguns amigos.


Sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis.


O melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis.


Deixaremos este mundo tão tolo e tão malvado como o encontrámos quando chegámos a ele.


O interesse que tenho em acreditar numa coisa não é prova da existência dessa coisa.


Teria maior confiança no desempenho de um homem que espera ter uma grande recompensa do que no daquele que já a recebeu.


A espécie humana é a única que sabe que tem de morrer.


O segredo de aborrecer é dizer tudo.


Todo o homem é culpado do bem que não fez.


Deixem-se considerações aos vivos; aos mortos deve-se apenas a verdade.


Deus é um comediante a atuar para uma plateia assustada de mais para rir.


Todo o divórcio começa mais ou menos ao mesmo tempo que o casamento. O casamento talvez comece algumas semanas mais cedo.


As grandes coisas são muitas vezes mais fáceis do que aquilo que se pensa.


Um general vitorioso nunca cometeu erros aos olhos do público, ao passo que um general vencido só fez asneiras, por mais sensato que tenha sido o seu procedimento.


Quando mais envelhecemos, mais precisamos de ter que fazer. Mais vale morrer do que arrastarmos na ociosidade uma velhice insípida: trabalhar é viver.

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