É dificílimo traçar um perfil biográfico de Jesus de Nazaré como personagem histórico, um homem que viveu na Palestina, então parte do Império Romano. Em primeiro lugar, porque os principais documentos escritos sobre sua vida – os Evangelhos – foram produzidos por seus discípulos, com objetivos pastorais e doutrinários. Não têm, portanto, um compromisso com o registro histórico, tal como se entende isso hoje em dia, no âmbito científico.
Além disso, os Evangelhos não só foram escritos algumas décadas depois da morte de Jesus, como também seus originais se perderam no tempo: restaram apenas cópias feitas a partir deles, em antigos papiros e pergaminhos, dos quais os mais velhos datam já do século II d.C. Por isso, tomá-los ao pé da letra só é possível do ponto de vista religioso e, mesmo assim, só os fundamentalistas sustentam uma interpretação literal do texto do Novo Testamento.
Contexto sociocultural
De qualquer modo, os Evangelhos continuam sendo a fonte principal para os estudos sobre Jesus, mas os historiadores – sejam cristãos, judeus, agnósticos ou ateus – precisam desenvolver um trabalho de exegese (interpretação) que se fundamenta na comparação entre o texto dos evangelistas e as outras fontes disponíveis sobre o tema. Porém, é importante considerar que, sobre Jesus propriamente, não há outras fontes. Então, o que os historiadores procuram é reconstituir com precisão a época e o contexto sociocultural em que Jesus viveu e, a partir daí, tentar entender as palavras dos Evangelhos.
Por exemplo, sabe-se que, no século I, havia uma crise de autoridade nos meios judaicos em Jerusalém, sendo frequente a contestação à elite religiosa responsável pelo Templo de Jerusalém, bem como o surgimento de grupos ou seitas que reivindicavam uma “nova aliança” com o Deus de Israel. Sobre esse pano de fundo, fica mais evidente o temor que as autoridades religiosas tinham de seus contestadores, temor que pode tê-los levado a fazer de Jesus um exemplo para outros que ousassem provocá-los. Trata-se, porém, de hipótese e cabe a quem a levanta apresentar os seus fundamentos.
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A propósito de contestação, o historiador espanhol José Antônio Pagola considera que a prisão e a condenação de Jesus têm como causa direta o célebre episódio da expulsão dos vendedores e cambistas do Templo de Jerusalém. O fato representaria, segundo o autor, uma veemente contestação ao modo de administração do Templo e aos ganhos que com ele seus sacerdotes obtinham. Até a ocorrência desse fato, Jesus teria sido apenas um contestador como tantos outros no contexto de crise religiosa que Jerusalém vivia. Depois dele, tornou-se um rebelde que precisava ser eliminado.
Um líder religioso revolucionário
Com seu livro “Jesus: Uma aproximação histórica”, que procura fazer uma extensa síntese dos estudos históricos sobre Jesus na atualidade e vendeu cerca de 100.000 exemplares em seu país de origem – uma cifra respeitável para uma obra volumosa e de leitura nada fácil –, o jesuíta Pagola desagradou muitas autoridades eclesiásticas da Espanha, pois, o perfil que ele traça do Jesus histórico se afasta bastante da ortodoxia da Igreja, que o concebe como Deus. Da leitura da obra de Pagola, se depreende um Jesus, que é mais um grande líder religioso, do que um ser sobre-humano e divino.
Não vem ao caso, contudo, discutir mais a fundo as ideias de Pagola. Não há dúvida de que suas teses são polêmicas, assim como as do historiador britânico Geza Vermes, de origem húngaro-judaica, outro autor respeitado que também produziu best-sellers sobre Jesus e sua época. Nem poderia ser diferente, pois Jesus continua a ser, dois milênios após a sua morte, uma figura polêmica. Muitos pensadores ateístas, por exemplo, tentam questionar a existência histórica de Jesus, dizendo que ele é um mito e que, de fato, Jesus, o homem, nunca existiu. É uma tese que a maioria dos historiadores rejeita, pois além dos Evangelhos há pelo menos uma fonte histórica segura que atesta a existência de Jesus: o historiador judeu Flávio Josefo, do primeiro século de nossa era.
Flávio Josefo e os Evangelhos apócrifos
Em obra intitulada “Antiguidades Judaicas”, Josefo menciona Jesus, bem como Tiago, irmão de Jesus, o que não quer dizer que este tivesse irmãos: para os judeus daquela época, não existia uma clara distinção entre irmãos e primos. No aramaico, a língua falada pela maioria da população local, a mesma palavra designa as duas coisas. De qualquer modo, Josefo é uma das fontes extraevangélicas mais importantes. A outra é o historiador romano Tácito (55-120), que se limita a apontar a presença de discípulos de Jesus em Roma.
Além dessas duas fontes, não se pode deixar de mencionar também os Evangelhos apócrifos, isto é, relatos da vida de Jesus que poderíamos chamar de biografias não-autorizadas, ou seja, não reconhecidas por teólogos e autoridades religiosas, tanto católicos, quanto protestantes. A pesquisa histórica evidencia a falta de credibilidade desses textos no que se refere ao essencial. Trata-se de escritos que datam mais de cem anos após a crucificação e que, portanto, não poderiam ter sido escritos por aqueles que são apresentados como seus autores, os apóstolos Pedro, Filipe e Tomé.
Milagres e ressurreição
Esses apócrifos representam sobretudo a crença das comunidades em que foram criados e, grosso modo, enfatizam aspectos sobrenaturais nas atividades de Jesus. Evidentemente, ao se falar em atividades sobrenaturais, isto é, nos milagres e na ressurreição de Jesus, vem à tona o aspecto que mais atrai as pessoas de um modo geral. No entanto, sobre isso, a ciência histórica não tem como se manifestar. Pelo menos não de uma maneira que possa se afirmar como consensual. A rigor, nos dias de hoje, a tendência predominante é não acreditar na ocorrência desses fatos e procurar entendê-los de modo simbólico, encontrando explicações naturais para eles.
Não se pode deixar de mencionar, entretanto, que há historiadores respeitados que sustentam a realidade da ressurreição, como N. T Wright, doutor pela prestigiosa Universidade de Oxford. Para Wright, há argumentos que comprovam que a ressurreição não pode ter sido uma “invenção” dos discípulos de Jesus. Entre eles, o fato de a difusão do cristianismo pelo mundo ter acontecido numa velocidade surpreendente, o que só um fato sobrenatural explicaria.
Vida de Jesus
Jesus de Nazaré é um personagem da Antiguidade universalmente conhecido, que viveu há cerca de 2.000 anos na antiga Palestina, território pertencente a Israel nos dias atuais. Também é chamado de Cristo, titulo grego que traduz o hebraico “messias”. O grego era a língua franca da época em que Jesus viveu.
Os textos que serviram de referência sobre a vida de Jesus são os quatro evangelhos do Novo Testamento da Bíblia, livro sagrado do cristianismo, e que foram escritos em diferentes épocas por discípulos de Jesus: Marcos, Mateus, Lucas e João. A palavra “evangelho” também vem do grego e quer dizer “boa nova”.
A partir dos evangelhos, acredita-se que Yeshua Ben Yossef (Jesus filho de José, em aramaico, a língua cotidiana da Palestina de então) nasceu em Belém ou em Nazaré, por volta do ano 6 a.C., no fim do reinado de Herodes, o Grande. A diferença entre a data real de nascimento de Jesus e o ano 1 do calendáriocristão se deve a um erro de cálculo.
Infância e adolescência
José, o pai de Jesus, era carpinteiro, e Maria, a mãe, era uma jovem que lhe havia sido prometida em casamento. Maria teria recebido a visita do arcanjo Gabriel e sabido que, por obra do Espírito Santo, seria a mãe do Filho de Deus, que viria ao mundo para salvar a humanidade. O Evangelho de Lucas traz a Anunciação como ocorrida em Nazaré, onde José e Maria viviam, e conta que o casal foi obrigado a viajar até Belém, onde Jesus nasceu, pelo censo "ordenado quando Quirino era governador da Síria".
A Bíblia não fala quase nada sobre a infância e a adolescência de Jesus, com exceção de uma passagem em que, aos 12 anos, numa visita ao Templo de Jerusalém durante a Páscoa judaica, seus pais o encontram discutindo teologia com os sábios nas escadarias do templo. Os evangelhos apócrifos descrevem Jesus como um menino travesso, que dava vida a figuras de barro para impressionar os colegas.
Da Galiléia a Jerusalém
Aos 30 anos de idade, Jesus começou a divulgar suas idéias em público e a realizar curas e exorcismos, entre outros “sinais e prodígios” ou “milagres”. Ele se fez batizar por João Batista nas margens do rio Jordão. Depois disso, viajou para a Galiléia e seus primeiros seguidores (discípulos) foram pescadores do lago Tiberíades. Eles viviam perto dali, em Cafarnaum, um povoado com cerca de 1.500 moradores.
Escavações encontraram os restos da casa de um dos discípulos, provavelmente de Simão Pedro (hoje conhecido como São Pedro), além de um barco datado da mesma época da passagem de Cristo pelo lugar. Embora Jesus não tenha se esforçado para obter fama, esta se espalhou por toda a região e passou a incomodar líderes religiosos judeus e os governantes romanos. Os líderes religiosos convenceram a autoridade romana (Pôncio Pilatos) a autorizar sua execução.
Jesus foi preso, no Jardim do Getsêmani, em Jerusalém. Julgado, reafirmou sua missão divina e foi condenado. Atravessou as ruas carregando a cruz e foi crucificado, aos 33 anos, entre dois ladrões, no Gólgota, o morro do calvário ou da caveira. As narrativas bíblicas afirmam que, ao terceiro dia, seu sepulcro estava vazio, pois ele ressucitou dos mortos e apareceu não só para os discípulos, mas também para uma multidão de 500 pessoas
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FONTE:UOL Educação
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Alexandre Dumas - O Conde de Monte Cristo - Parte III cap. 14
"Caminhamos pela fé, e não pela visão."
Das ovelhas que meu Pai me confiou,
nenhuma se perderá.
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