terça-feira, 12 de junho de 2012

DANTE


Dante Alighieri 
Dante Alighieri nasceu em Florença em 1265 de uma família da baixa nobreza. Sua mãe morreu quando era ainda criança e seu pai, quando tinha dezoito anos. Pouco se sabe sobre a vida de Dante e a maior parte das informações sobre sua educação, sua família e suas opiniões são geralmente meras suposições. As especulações sobre a sua vida deram origem à vários mitos que foram propagados por seus primeiros biógrafos, dificultando o trabalho de separar o fato da ficção. Pode-se encontrar muita informação em suas obras, como na Vida Nova (La Vita Nuova) e na Divina Comédia (Commedia). Na Vida Nova Dante fala de seu amor platônico por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari), que encontrara pela primeira vez quando ambos tinham 9 anos e que só voltaria a ver 9 anos mais tarde, em 1283. Nos tempos de Dante, o casamento era motivado principalmente por alianças políticas entre famílias. Desde os 12 anos, Dante já sabia que deveria se casar com uma moça da família Donati. A própria Beatriz, casou-se em 1287 com o banqueiro Simone dei Bardi e isto, aparentemente, não mudou a forma como Dante encarava o seu amor por ela. Provavelmente em 1285, Dante casou-se com Gemma Donati com quem teve pelo menos três filhos. Uma filha de Dante tornou-se freira e assumiu o nome de Beatrice. Dante foi fortemente influenciado pelos trabalhos de retórica e filosofia de Brunetto Latini - um famoso poeta que escrevia em italiano (e não em latim, como era comum entre os nobres), tendo também se beneficiado da amizade com o poeta Guido Cavalcanti - ambos mencionados na sua obra.
Pouco se sabe sobre sua educação. Segundo alguns biógrafos, é possível que tenha estudado na universidade de Bologna, onde provavelmente esteve em 1285. Na obra La Vita Nuova, seu primeiro trabalho literário de importância, iniciado pouco depois da morte de Beatriz, Dante narra a história do seu amor por Beatriz na forma de sonetos e canções complementadas por comentários em prosa. Durante o seu exílio Dante escreveu duas obras importantes em latim: De Vulgari Eloquentia, onde defende a língua italiana, e Convivio, incompleto, onde pretendia resumir todo o conhecimento da época em 15 livros. Apenas os quatro primeiros foram concluídos. Escreveu também um tratado: De Monarchia, onde defendia a total separação entre a Igreja e o Estado. A Commedia consumiu 14 anos e durou até a sua morte, em 1321, ocorrida pouco após a conclusão do Paraíso. Cinco anos antes de sua morte, foi convidado pelo governo de Florença a retornar à cidade. Mas os termos impostos eram humilhantes, semelhantes àqueles reservados à criminosos perdoados e Dante rejeitou o convite, respondendo que só retornaria se recebesse a honra e dignidade que merecia. Continuou em Ravenna, onde morreu e foi sepultado com honras.




Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1774306-dante-alighieri-biografia/#ixzz1xWHJUS36






Obras de Dante Alighieri
- Divina Comédia (obra mais importante e mais conhecida)
- De Vulgari Eloquentia ("Sobre a Língua vulgar")
- Vita Nova ("Vida Nova")
- Le Rime - ("As rimas")
- Il Convivio - ("O Convívio")
- Monarchia - ("Monarquia")
- "As Epístolas"
- "Éclogas"
- "Quaestio" de aqua et terra"





Quanto maior é a sede, maior é o prazer em satisfazê-la.





Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama.


As leis existem, mas quem as aplica?


Puderam vencer em mim o ardor,  que me levou a conhecer o mundo,  e os vícios e as virtudes dos homens....




E tal, balbuciando, ama e obedece  à sua mãe, mas, quando adulto,  deseja vê-la enterrada.




Vês que a razão, seguindo o caminho indicado pelos sentimentos, tem asas curtas.




Oh, quão insuficiente é a palavra e quão ineficaz  ao meu conceito!


A vontade, se não quer, não cede, é como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la.




O mundo é cego, e tu vens exactamente dele.




Não deve o homem, pelo maior amigo, esquecer os favores recebidos do menor.




Do viver que é uma corrida para a morte.





SONETO DA VIDA NOVA

Tão discreta e gentil que me afigura
ao saudar, quando passa, a minha amada,

que a língua não consegue dizer nada
e a fitá-la, o olhar não se aventura.

Ela se vai sentindo-se louvada
envolta de modéstia nobre e pura.
Parece que do céu essa criatura
para atestar milagre foi baixada.

Ao que a contempla infunde tal prazer,
pelos olhos transmite tal doçura,
que só quem prova pode compreender.

E assim, parece, o seu semblante inspira
um delicado espírito de amor
que vai dizendo ao coração suspira





No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.




Quem és tu que queres julgar, com vista que só alcança um palmo,  coisas que estão a mil milhas?




A razão vos é dada para discernir o bem do mal.




Pois perder tempo desagrada mais a quem mais conhece o seu valor.




Em vida,  eu jamais teria sido tão cortês, tal era o meu desejo de sobressair.




Entregou-se tanto ao vício da luxúria  que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer,  para cancelar a censura que merecia.




Em leito de penas  não se alcança a fama nem sobre as cobertas;  Quem a vida consome sem a fama,  não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra,  qual fumo no ar e espuma na água.




Pelo exemplo de Beatriz compreende-se  facilmente como o amor feminino dura pouco,  se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tato do homem amado.




A DIVINA COMÉDIA:




Resumo do livro:

Ao fazer com que cada terceto antecipe o som que irá ecoar duas vezes no terceto seguinte, a terza rima dá uma impressão de movimento ao poema. É como se ele iniciasse um processo que não poderia mais parar. Através do desenho abaixo pode-se ter uma visão mais clara do efeito dinâmico da poesia: Os três livros que formam a Divina Comédia são divididos em 33 cantos cada, com aproximadamente 40 a 50 tercetos, que terminam com um verso isolado no final. O Inferno possui um canto a mais que serve de introdução a todo o poema. No total são 100 cantos. Os lugares descritos por cada livro (o inferno, o purgatório e o paraíso) são divididos em nove círculos cada, formando no total 27 (3 vezes 3 vezes 3) níveis. Os três livros rimam no último verso, pois terminam com a mesma palavra: stelle, que significa 'estrelas'.
Dante chamou a sua obra de Comédia. O adjetivo "Divina" foi acrescido pela primeira vez em uma edição de 1555. A Divina Comédia excerceu grande influência em poetas, músicos, pintores, cineastas e outros artistas nos últimos 700 anos. Desenhistas e pintores como Gustave Doré, Sandro Botticelli, Salvador Dali, Michelangelo e William Blake estão entre os ilustradores de sua obra. Os compositores Robert Schumann e Gioacchino Rossini traduziram partes de seu poema em música e o compositor húngaro Franz Liszt usou a Comédia como tema de um de seus poemas sinfônicos.

Inferno: Quando Dante se encontra no meio da vida, ele se vê perdido em uma floresta escura, e sua vida havia deixado de seguir o caminho certo. Ao tentar escapar da selva, ele encontra uma montanha que pode ser a sua salvação, mas é logo impedido de subir por três feras: um leopardo, um leão e uma loba. Prestes a desistir e voltar para a selva, Dante é surpreendido pelo espírito de Virgílio - poeta da antigüidade que ele admira - disposto a guiá-lo por um caminho alternativo. Virgílio foi chamado por Beatriz, paixão da infância de Dante, que o viu em apuros e decidiu ajudá-lo. Ela desceu do céu e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto por Virgílio consiste em fazer uma viagem pelo centro da terra. Iniciando nos portais do inferno, atravessariam o mundo subterrâneo até chegar aos pés do monte do purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até as portas do céu. Dante então decide seguir Virgílio que o guia e protege por toda a longa jornada através dos nove círculos do inferno, mostrando-lhe onde são expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios infernais, suas cidades, monstros e demônios, até chegar ao centro da terra, onde vive Lúcifer. Passando por Lúcifer, conseguem escapar do inferno por um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra, e assim voltar a ver o céu e as estrelas.

Purgatório: Saindo do inferno, Dante e Virgílio se vêem diante de uma altíssima montanha: o Purgatório. A montanha é tão alta que ultrapassa a esfera do ar e penetra na esfera do fogo chegando a alcançar o céu. Na base da montanha encontram o ante-purgatório, onde aqueles que se arrependeram tardiamente dos seus pecados aguardam a oportunidade para entrar no purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do ante-purgatório, os poetas atravessam um portal e iniciam sua nova odisséia, desta vez subindo cada vez mais. Passam por sete terraços, cada um mais alto que o outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o purgatório do paraíso terrestre. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas.

Paraíso:
 O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e uma espiritual (onde não há matéria). A parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados pelos sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), o céu das estrelas fixas e o Primum Mobile - o céu cristalino e último círculo da matéria. Ainda no paraíso terrestre, Beatriz olha fixamente para o sol e Dante a acompanha até que ambos começam a elevar-se, "transumanando". Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano. Chegando ao céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe permissão para prosseguir. No céu cristalino Dante adquire uma nova capacidade visual, e passa a ter visão para compreender o mundo espiritual, onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz e tem a oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de Deus, "o amor que move o Sol e as outras estrelas".



Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.

Uma vontade, mesmo se é boa, deve ceder a uma melhor.


O falar é um efeito natural;  mas, de um modo ou de outro, a natureza deixa o homem  escolher aquele que mais lhe agrada.

epois, mais do que a dor, venceu a fome.


Tão fiel fui ao glorioso ofício,  que perdi o sono e a saúde.


"Alma, criada para amar ardente,
A tudo corre, que lhe dá contento,
Se despertada do amor se sente.
Do que é real o vosso entendimento
Colhe imagens que em modo tal desprega,
Que alma prá elas sente atraimento.
Se alma, enlevada, ao seu pendor se entrega
Esse efeito é amor, própria natura,
Em que o prazer novo liame emprega.
E, como fogo se ala para a altura
Por sua forma que a elevar-se tende
Ao foco, onde o elemento seu mais dura,
Assim pelo desejo a alma se acende,
Ação espiritual que não se aquieta,
se não consegue a posse que pretende.
Vê, pois, que da verdade excede a meta
Quem acredita e aos outros assevera
Que todo amor de si é coisa reta"



Abre a mente ao que eu te revelo  e retém bem o que eu te digo, pois não é ciência  ouvir sem reter o que se escuta.

A estirpe não transforma os indivíduos em nobres, mas os indivíduos dão nobreza à estirpe.


Ó musas, com o vosso alto engenho, ajudai-me;  ó memória, que escreveste o que vi,  que se prove aqui a tua fidelidade.


"Por aqui não se passa sem que se sofra o calor do fogo."


Sai da mão de Deus que a contempla / antes de criá-la, como uma criança / que chora e ri sem verdadeiro motivo, / a alma ingénua que tudo ignora, / excepto quando, movida pelo desejo de retornar a Ele, / segue de bom grado o que a diverte.


Louco é quem espera que a nossa razão,  possa percorrer a infinita via , que tem uma substância em três pessoas.


Tiveste sede de sangue, e eu de sangue te encho.


   Paraíso


O Paraíso - canto 1

 A glória do que tudo movimenta
Pelo universo espalha-se e resplandece,
Embora em uma parte mais que noutra.

No céu onde esta luz é mais intensa
Estive e vi coisas tais como não sabe
nem consegue contar quem de lá desça.

É que à beira divina dos desejos
tanto o u«humano intelecto se absorve
que a memória é incapaz de acompanhá-lo.

Mesmo assim quanto eu do reino santo
retive em minha mente por tesouro
será a matéria agora do meu canto.

Bom Apolo em meu escopo derradeiro,
faz que me encha o teu engenho tanto
que logre merecer-te o amado louro.

(Tradução de Vasco Graça Moura)



Não se pode exprimir com palavras / a passagem do estado humano ao divino....


Trazes turbado o espírito, não conseguindo entender como é possível que uma vingança justa tenha sido mais tarde justamente punida...


Vós que viveis e sempre atribuís tudo o que ocorre na terra / aos movimentos celestes, como se tal movimento imprimisse / em todas as coisas uma necessidade, // Se assim fosse, em vós seria destruído / o livre-arbítrio, e não seria justo que o homem tivesse / por bem a alegria e por mal a dor.


Pensa que o dia passado não volta mais!


Amor e coração nobre são uma única coisa.


Com aquela medida que o homem usa para medir a si mesmo, mede as suas coisas.


Não há nada pior que recordar a felicidade em tempos de dor. (Inferno)


Muita cautela e igual prudência devem ter os homens quando lidam com os que enxergam não somente as coisas, mas percebem também o que se pensa.(A DIVINA COMÉDIA)


Aquele que à inatividade se entregar deixará de si sobre a terra memória igual ao traço que o fumo risca no ar e a espuma traça na onda. (A Divina Comédia)


Amor e alma gentil estão ligados
como nos diz o sábio na canção.
Só pode um sem o outro ser pensado
se à alma racional falta razão.

     Anjo no Purgatório 



  Alma levada ao inferno


 Inferno



Nel mezzo del cammin

INFERNO

                 CANTO I (trecho inicial)

No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída.

Ah, como armar no ar uma figura
desta selva selvagem, dura, forte,
que, só de eu a pensar, me desfigura?

É quase tão amargo como a morte;
mas para expor o bem que encontrei,
outros dados darei da minha sorte.
Não me recordo ao certo como entrei,
tomado de uma sonolência estranha,
quando a vera vereda abandonei.

Sei que cheguei ao pé de uma montanha,
lá onde aquele vale se extinguia,
que me deixara em solidão tamanha,

e vi que o ombro do monte aparecia
vestido já dos raios do planeta
que a toda gente pela estrada guia.

Então a angústia se calou, secreta,
lá no lago do peito onde imergira
a noite que tomou minha alma inquieta;

e como náufrago, depois que aspira
o ar, abraçado à areia, redivivo,
vira-se ao mar e longamente mira,

o meu ânimo, ainda fugitivo,
voltou a contemplar aquele espaço
que nunca ultrapassou um homem vivo.

(...)

                   
Tradução: Augusto de Campos 



[É TÃO GENTIL E TÃO HONESTO O AR]
É tão gentil e tão honesto o ar
de minha Dama, quando alguém saúda,
que toda boca vai ficando muda
e os olhos não se afoitam de a fitar.

Ela assim vai sentindo-se louvar
na piedosa humildade em que se escuda,
qual fosse um anjo que dos céus se muda
para uma prova dos milagres dar.

Tão afável se mostra a quem a mira
que o olhar infunde ao coração dulçores
que só não sente quem jamais olhou-a.

E quando fala, dos seus lábios voa
Uma aura suave, trescalando amores,
que dentro d'alma vai dizer: "Suspira!"
                    Tradução: Augusto de Campos 

[VÊ-SE DENTRO DO CÉU PRODIGAMENTE]

Vê-se dentro do céu prodigamente
quem minha amada entre outras damas veja.
E toda aquela que a seu lado esteja
rende graças a

 Deus por ser clemente.

Tanta virtude tem sua beleza
que inveja acaso às outras não consente,
por isso as tem vestida simplesmente
de confiança, de amor, de gentileza.

Tudo se faz humilde em torno dela;
por ser sua visão assim tão bela
às que a cercam também chega o louvor.

Pela atitude mostra-se tão mansa
que ninguém pode tê-la na lembrança
que não suspire, no íntimo, de amor.
                    Tradução: Henriqueta Lisboa



Dante Alighieri
•  "Canto I" (Inferno) e "Tanto gentile..."
    In Augusto de Campos
    Invenção - de Arnaut e Raimbaut a Dante
    e Cavalcanti

    Editora Arx, São Paulo, 2003    
•  "Vede perfettamente..."
    In Henriqueta Lisboa
    Poesia Traduzida
    Organização, introdução e notas de 
    Reinaldo Marques e 
    Maria Eneida Victor Farias
    Editora UFMG, Belo Horizonte, 2001
__________________
* Dante Milano, "Poemas de Um Verso", 
  in Obra Reunida.

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