quinta-feira, 8 de março de 2012

FREUD



Sigmund Freud

A 06 de maio de 1856 nasceu em Freiberg, Sigmund Freud o criador da psicanálise. No ano 1877, abreviou o nome de Sigismund Schlomo Freud para Sigmund Freud. Freud foi o filho mais velho (entre sete filhos) do terceiro casamento de Jacob Freud e Amalia Freud. Devido a má situação econômica, a família mudou-se para Viena, Áustria, onde o pai estabeleceu um comércio no bairro Leopoldstrasse.

Em fevereiro de 1923 foi descoberto um tumor maligno, imediatamente foi feita uma cirurgia. Freud tinha que usar uma prótese. Após 33 cirurgias, tinha dificuldade em falar, mas mantinha suas atividades de rotina, abandonando apenas os problemas do movimento psicanalítico.

Casou com Martha Bernays. O casal teve seis filhos, um dos quais, Ana, tornou-se discípula, porta-voz do pai, e psicanalista. Em março de 1938, quando da invasão da Áustria pela Alemanha, com a intervenção do diplomata americano William Bullitt e de um resgate pago por Marie Bonaparte, Freud e sua família deixaram Viena indo para Londres, residindo em Maresfield Gardens 20; hoje Freud Museum.

Freud faleceu em 23 de setembro de 1939, depois de ter estado dois dias em coma, a seu pedido recebeu três injeções de três centigramas de morfina, com a concordância de Anna Freud.

Freud continua tão polêmico hoje em dia como na época em que esteve vivo. É idolatrado pelos seus seguidores, mas também é visto como um mistificador, principalmente porque após década de 1990 com as descobertas da neurociência, muitos dos princípios fundamentais da psicanálise são questionados.



Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa.


“... [a religião é] um sistema de doutrinas e promessas que, por um lado, lhe explicam os enigmas deste mundo com perfeição invejável e que, por outro lado, lhe garantem que uma Providência cuidadosa velará por sua vida e o compensará, numa existência futura, de quaisquer frustrações que tenha experimentado aqui. O homem comum só pode imaginar essa Providência sob a figura de um pai ilimitadamente engrandecido. Apenas um ser desse tipo pode compreender as necessidades dos filhos dos homens, enternecer-se com suas preces e aplacar-se com os sinais de seu remorso. Tudo é tão patentemente infantil, tão estranho à realidade, que, para qualquer pessoa que manifeste uma atitude amistosa em relação à humanidade, é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida. Mais humilhante ainda é descobrir como é vasto o número de pessoas de hoje que não podem deixar de perceber que essa religião é insustentável e, não obstante isso, tentam defendê-la, item por item, numa série de lamentáveis atos retrógrados.”



Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que muitas civilizações, ou épocas culturais - talvez até a humanidade inteira - se tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de civilização?




A ciência não é uma ilusão, mas seria uma ilusão acreditar que poderemos encontrar noutro lugar o que ela não nos pode dar.


A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos.


O sonho é a satisfação de que o desejo se realize.


É escusado sonhar que se bebe; quando a sede aperta, é preciso acordar para beber.


Os judeus admiram mais o espírito do que o corpo. A escolher entre os dois, eu também colocaria em primeiro lugar a inteligência.


A nossa civilização é em grande parte responsável pelas nossas desgraças. Seríamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos às condições primitivas.


Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro.


O estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los.


A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.


Não posso imaginar que uma vida sem trabalho seja capaz de trazer qualquer espécie de conforto. A imaginação criadora e o trabalho para mim andam de mãos dadas; não retiro prazer de nenhuma outra coisa.


O homem enérgico e que é bem sucedido é o que consegue transformar em realidades as fantasias do desejo.


Eduque-o como quiser; de qualquer maneira há-de educá-lo mal.


Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos


Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.


Não somos apenas o que pensamos ser.
Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos;
somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos,os impulsos a que cedemos, "sem querer".


A popularização leva à aceitação superficial sem estudo sério. As pessoas apenas repetem as frases que aprendem no teatro ou na imprensa. Pensam compreender algo da psicanálise porque brincam com seu jargão...


De erro em erro, vai-se descobrindo toda a verdade.




O instinto de amar um objeto demanda a destreza em obtê-lo, e se uma pessoa pensar que não consegue controlar o objeto e se sentir ameaçado por ele, ela age contra ele.




Em última análise, precisamos amar para não adoecer.




Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste.




Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, se convence que os mortais não podem ocultar nenhum segredo.
Aquele que não fala com os lábios, fala com as pontas dos dedos: nós nos traímos por todos os poros.





Fica-se muito louco quando apaixonado.




"O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver."




"Existe duas maneiras de ser feliz nesta vida, uma é fazer-se de idiota e a outra sê-lo."




A crença em Deus subsiste devido ao desejo de um pai protetor e imortalidade, ou como um ópio contra a miséria e sofrimento da existência humana.




"O homem é dono do que cala e escravo do que fala."
"Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo."




As grandes coisas podem ser reveladas através de pequenos indícios




Disse Platão que os bons são os que se contentam com sonhar aquilo que os maus fazem na realidade."




O novo sempre despertou perplexidade e resistência.




Não permito que nenhuma reflexão filosófica me tire a alegria das coisas simples da vida




Cães amam seus amigos e mordem seus inimigos, bem diferente das pessoas, que são incapazes de sentir amor puro e têm sempre que misturar amor e ódio em suas relações.




Toda anedota, no fundo, encobre uma verdade




Nós nunca somos tão desamparadamente infelizes como quando perdemos um amor.




Contra os ataques é possível nos defendermos: contra o elogio não se pode fazer nada.





Ao tomar uma decisão de menor importância, eu descobri que é sempre vantajoso considerar todos os prós e contras. Em assuntos vitais, no entanto, tais como a escolha de um companheiro ou profissão, a decisão deve vir do inconsciente, de algum lugar dentro de nós. Nas decisões importantes da vida pessoal, devemos ser governados, penso eu, pelas profundas necessidades íntimas da nossa natureza.







A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade.








Freud e a mente humana


O século XX foi cruel com Freud, embora ele seja considerado uma das maiores "cabeças" do período. É moda dizer que foi refutado e que a maioria das suas "teorias" caiu por terra — apesar de ele ter consagrado a psicanálise. Hoje em dia, lê-se por aí que Freud é mais visto como "filósofo" do que como cientista (Wittgenstein, um filósofo contemporâneo seu, sempre duvidou que houvesse ciência em seus procedimentos). A neurociência chegou para impor suas "verdades"; mas a verdade é que Freud propôs um dos melhores modelos para a "mente humana" de que se tem notícia.

Todo mundo conhece o "id", o "ego" e o "superego". Os três caíram no gosto popular. O id seria o que resta de "animal" em nós ("animal" entre aspas, porque os verdadeiros animais não têm culpa). Michael Kahn, autor de Freud básico (um guia extremamente confiável, lançado recentemente pela editora Record/Civilização Brasileira), compara o "id" ao "monstro" do conto Dr. Jekyll and Mr. Hyde (O médico e o monstro), de Robert Louis Stevenson. O id quer realizar todos os nossos desejos e não entende que uma recusa ao "prazer momentâneo" pode se converter em "prazer duradouro". Aí entra o ego. 

O ego ou a "consciência" faz a mediação (no jargão futebolístico: o "meio-de-campo") entre o id, insaciável, e o superego. Este último serviria para nos punir e para frear nossos instintos, com base na experiência. Kahn dá um exemplo ótimo: aprendemos, quando crianças, com os nossos pais, que não devemos transgredir certas normas sociais; no início, somos punidos e corrigidos por eles; mais tarde, sua mera presença nos faz lembrar de como devemos nos comportar; com o tempo, incorporamos as lições dos nossos pais em nós, de tal forma que o superego assume o papel de "vigia" dentro da nossa cabeça

O superego é aquela voz que nos diz que "alguém pode estar olhando" (como na frase de Mencken). Kahn sugere a imagem de um "porteiro", que decide (como no conto de Kafka) quem deve ou não atravessar a "porta da consciência". Mas o superego pode ser traiçoeiro, crescer demais na vida de uma pessoa e, por meio da "culpa", impedir que ela se desenvolva como ser humano. O superego pode ainda protelar um "desejo" indefinidamente, de modo que ele se transforme em "recalque" — e lá vai o sujeito engrossar o coro dos "recalcados". 

Freud é tomado, junto com Darwin e Marx, como uma das "bestas do apocalipse", porque ajudou a enterrar o que restou de "religiosidade" no século passado. E, realmente, depois de estudar Freud, fica difícil concordar que a "culpa" (como vista, por exemplo, pela igreja católica) possa trazer algum benefício ao indivíduo. Kahn evoca a vida de santos que, para livrar-se de "pensamentos pecaminosos", impunham castigos ao próprio corpo — para eles, a fonte de todo o "mal". Tinham razão; mas, pensando neles, Freud balançaria a cabeça negativamente, como se dissesse: "Tsc, tsc, tsc...". 

Os "desejos" simplesmente existem em nós. Não têm qualquer origem "moral". Brotam junto com os pensamentos e não devem ser tomados como um indício de "má conduta" ou de "mau comportamento". Aqueles santos, que se autoflagelavam, não diferenciavam os seus "atos" das suas "vontades". Para Freud, um dos "custos" da civilização era justamente esse: impor que as últimas não se convertessem nos primeiros — e garantir uma convivência harmônica entre os seres humanos. Contudo, sem a pretensão de querer anular "desejos inconvenientes"; afinal, eles poderiam nos dar pistas para uma das forças mais poderosas que regem a nossa vida: o inconsciente. 

O "inconsciente" não foi uma invenção de Freud, como aponta Kahn. Já existia na obra de poetas; e, justamente, aqueles com melhor acesso ao inconsciente seriam os "artistas". Muitas das nossas motivações ao longo da existência, por mais que as "racionalizemos", emanam do nosso inconsciente. Ele é a chave, por exemplo, para entender por que cometemos sempre os mesmos erros; por que reagimos a determinadas situações de forma semelhante; e, principalmente, por que não superamos certas dificuldades que nos acompanham desde a infância, até a idade adulta. 

Freud, no contato com seus pacientes, descobriu que os "sonhos" eram o melhor caminho para o inconsciente. Através da sua "interpretação", por meio de associações de palavras, curou muita gente da chamada "compulsão à repetição", permitindo que pudessem viver plenamente. Afinal de contas, as relações que construímos desde que somos crianças e adolescentes tendem a se refletir, futuramente, nas ligações que continuaremos a estabelecer em etapas posteriores. Assim, um "trauma" ou um "complexo" mal resolvido pode redundar em problemas, cuja origem, depois, só ficará clara através da sondagem do inconsciente. 

Portanto, é central na obra de Freud o "complexo de Épido". Ele fica claro se tomarmos o caso dos "meninos" mais do que das "meninas". Esses, para completar seu "desenvolvimento psicossexual", precisariam, em algum momento na puberdade, suplantar a figura do "pai" e conquistar a da "mãe". (Aquele que não fosse bem sucedido nesse instante sofreria as conseqüências.) A "conquista" da mãe, para o jovem rapaz, é a prova de que ele pode, posteriormente, conquistar outras garotas e, metaforicamente, "assumir" o lugar do pai (na família que irá constituir depois). Freud acreditava que os homossexuais "falhavam" ao tentar sobrepujar a figura do pai — o que provocaria, neles, uma identificação com o mesmo, de modo que passariam a vida "(re)conquistando" o pai (através de outros homens) e não a mãe. Do mesmo jeito, aquele que "falhasse" ao tentar conquistar a mãe se converteria num "dom juan" — que procuraria, em todas as mulheres que encontrasse, a figura da genitora, para subjugá-la ao final. (Talvez por esse motivo, Freud afirmasse que o "conquistador inveterado" está a um passo do homossexual [vide Lord Byron].) 

Kahn, igualmente terapeuta, narra casos de pacientes que, à medida que o tratamento avançava, "projetavam" nele a imagem do pai ou da mãe. Alguns adotavam uma postura "desconfiada", agindo, em relação a ele, como "filhos rebeldes"; outros formavam um vínculo de tamanha afetividade que terminavam querendo estabelecer relações amorosas. Há, particularmente, no livro, a história de uma moça cujo "corpo" lhe enviava sinais do inconsciente: ela comparecia às sessões cada vez mais arrumada e ansiava por que Kahn a "desejasse", como o pai que não a desejou — a fim de suplantar um "complexo" que a impedia de relacionar-se com rapazes de sua idade. (Uma vez percebido isso, foi desatado o nó que levou à "cura".) 

Freud chamou o fenômeno de "transferência" — e ele é bastante comum até os dias de hoje (vide os filmes de Woody Allen). Como dito anteriormente, a representação do "pai" e da "mãe", junto com os primeiros vínculos que estabelecemos, vão ecoar pela vida afora: na escola, no trabalho, na família, etc. Freud via em toda e qualquer afeição um potencial "erótico". Nas relações familiares inclusive (como o nosso Nélson Rodrigues, aliás), podendo explodir em descargas aparentemente sem sentido, mas segundo um padrão previsto no inconsciente. Não à toa, Freud considerava o amor da "mãe" pelo "filho" um dos mais perfeitos para a mulher — porque ele se realizava sem a consumação carnal (que proporciona sempre tantas frustrações). 

Ainda com relação ao "pai", Freud teve dúvidas ao nomear o "complexo de Édipo". Baseando-se na obra-prima de Sófocles, percebeu que poderia muito bem chamá-lo de "complexo de Laio". Pois, como um dos protagonistas da história, os "pais" se sentiam ameaçados pelos "filhos" recém-chegados e temiam, como efetivamente acontece, que estes tomassem o seu "lugar", usurpando do "rei" o trono. Kahn fala de culturas em que, quando o bebê nasce, o pai é afastado do leito — o que evoca a imagem da "sucessão". Os "pais" então, inconformados com a perda da "posição", e enciumados diante do amor que a mãe naturalmente dedica ao recém-nascido, voltar-se-iam contra os próprios "filhos", em represália. 

Freud e Kahn retornam ao "pai" e à "mãe", ainda uma vez, para discorrer sobre a experiência do luto. Freud achava "positivo" que a perda de um ente querido fosse vivida plenamente. Notava que, em sociedades onde os rituais do luto eram seguidos à risca, os indivíduos superavam mais facilmente a perda. A seu ver, era necessário esgotar as lembranças do ente (por exemplo, em conversas), incorporando, inclusive, hábitos ou mesmo pertences daquele que se foi, num processo denominado "introjeção". Quem não atravessasse a contento a experiência do luto ficaria preso num mundo "irreal", teria problemas para confrontar-se com o "mundo exterior" e não construiria novas relações, no lugar daquela que se rompeu. 

É, em resumo, uma pena que todo o estudo, empreendido por Freud, sobre a natureza humana, atualmente se restrinja a alguns clichês, muitos conceitos equivocados e à firme convicção de que a ciência, definitivamente, o "ultrapassou". A descoberta de Freud (que era muito mais que "sexo" e "charutos") pode ser ainda reveladora, ajudando muita gente — com ou sem terapia — a se conhecer e a viver melhor com suas próprias idiossincrasias. Nesse sentido, Freud básico, de Michael Kahn, apresenta-se como uma bela introdução.

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