segunda-feira, 5 de março de 2012

NELSON RODRIGUES




Nelson Rodrigues (1912-1980) foi um escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro. Foi autor de peças conhecidas como “Vestido de Noiva”. Revolucionou a forma de escrever o teatro brasileiro.
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife e mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro. Começou a trabalhar ainda cedo, numa redação de jornal. Em 1941, escreveu a peça “A Mulher Sem Pecado”. Mas a grande revolução no teatro se deu com a peça “Vestido de Noiva”. O texto apresentava uma nova de escrita teatral, com ações simultâneas em tempos diferentes e a existência de três planos (realidade, memória e alucinação).
Sua obra se divide em peças psicológicas (suas primeiras peças), mitológicas (“Anjo Negro”, álbum de Família”) e as tragédias cariocas (“A Falecida” e o “Beijo no Asfalto”). O teor de suas peças eram questões relacionadas ao sexo, incesto, tabus, virgindade, traição, moralismo e obsessões variadas.
Nelson Rodrigues escreveu ainda romances como "Meu Destino é Pecar” “O Casamento”. Em 1968, publicou o conjunto de crônicas escritas: “As Confissões de Nelson Rodrigues” e “O óbvio Ululante”.
Morreu no Rio de Janeiro de complicações cardio-respiratórias.
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Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico(desde menino).


O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca




O biquíni é uma nudez pior do que a nudez




Só há uma tosse admissível: a nossa




Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma




Não admito censura nem de Jesus Cristo




Nada nos humilha mais do que a coragem alheia




Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral




Morder é tara? Tara é não morder




Todo tímido é candidato a um crime sexual




Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar


O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que 
Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro




O amigo é um momento de eternidade




O asmático é o único que não trai




Não há bola no mundo que seja indiferente a Zizinho.




A humilhação de 50, jamais cicatrizada, ainda pinga sangue. Todo escrete tem sua fera. Naquela ocasião, a fera estava do outro lado e chamava-se Obdulio Varela.




Djalma Santos põe, no seu arremesso lateral, toda a paixão de um Cristo negro.




Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.




Um jogador rigorosamente brasileiro, brasileiro da cabeça aos sapatos. Tinha a fantasia, a improvisação, a molecagem, a sensualidade do nosso craque típico.




Não me venham falar em Di Stéfano, em Puskas, em Sivori, em Suárez. Eis a singela e casta verdade: não chegam aos pés de Pelé. Quando muito, podem engraxar-lhe os sapatos, escovar-lhe o manto.




Um time que tem Pelé é tricampeão nato e hereditário.




O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano.




Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.




Eu digo: não há no Brasil, não há no mundo ninguém tão terno, ninguém tão passarinho como o Mané.




O casamento não é culpado de nada. Nós é que somos culpados de tudo.




A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível.




Toda coerência é, no mínimo, suspeita.




A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.




Toda a história humana ensina que só os profetas enxergam o óbvio.




Amar é ser fiel a quem nos trai.




Acho a liberdade mais importante que o pão.




Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.




Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro.




Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.




No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.




A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relaões com o passado ficam alteradas.




Deus só freqüenta as igrejas vazias.




Copacabana vive, por semana, sete domingos.




Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!




A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia.




Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar de batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como 
um são Francisco de Assis, com a luva de borracha e um passarinho em cada ombro.




A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.




No passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de estrebuchar na página do jornal.




Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de 
concordância.




Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.




Os magros só deviam amar vestidos, e nunca no claro.




Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.




O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: – dez anos para não curar. 
Não há no enfarte a paciência das neuroses




Não há ninguém mais vago, mais irrelevante, mais contínuo do que o ex-ministro.




Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.




O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.




Enquanto um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o pré-Brasil.




Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: – não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.




Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.




Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa.




Sexo é para operário.




Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.




Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.




A companhia de um paulista é a pior forma de solidão




O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual




Só os profetas enxergam o óbvio




Deus prefere os suicidas




A morte é anterior a si mesma




Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.




Todo desejo é vil




A cama é um móvel metafísico


Até 1919, a mulher que ia ao ginecologista sentia-se, ela própria, uma adúltera


O brasileiro chamado de doutor treme em cima dos sapatos. Seja ele rei ou arquiteto, pau-de-arara, comerciário ou ministro, fica de lábio trêmulo e olho rútilo


Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante


Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem


Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo

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