sexta-feira, 2 de março de 2012

BERTOLT BRECHT



Bertolt Brecht começou a escrever cedo e publicou seu primeiro texto num jornal em 1914. Cinco anos mais tarde, ingressou no Partido Independente Socialista e teve um filho - Frank - com uma de suas amantes.

Em 1922 estreou sua peça "Os tambores da noite". Em 1923 casou-se com Marianne Zoff, de quem se divorciaria em 1927, e com quem teve uma filha, Hanne.
Conheceu a atriz Helen Weigel e com ela passou a morar em Berlim. O casal teve um filho, Stefan.

Brecht conheceu o músico Kurt Weil em 1927. Dois anos depois, criaram juntos a "Ópera dos Três Vinténs", que se tornaria um grande sucesso. A partir daí, o dramaturgo passou por um período de grande produtividade. Criou "A Mãe", "Homem por Homem", "Mahagonny", "Happy End", "Santa Joana dos Matadouros", entre várias outras peças. Nesta época desenvolveu também ateoria do teatro épico, que seria publicada em 1948, em "Estudos sobre Teatro."

Em 1933, com a perseguição nazista, Brecht exilou-se da Alemanha, indo primeiro para a Suíça, depois para Paris e finalmente fixando-se na Dinamarca. Nesse período, criou "Terror e Miséria do Terceiro Reich," "A Vida de Galileu" e "Mãe Coragem e seu filhos". Com a invasão da Dinamarca pelos alemães, partiu novamente, refugiando-se agora em Nova York, em 1941.

Bertolt Brecht trabalhou em Hollywood. Dois anos após o fim da Segunda Guerra, em 1947, retornou à Europa. Instalou-se definitivamente em Berlim, em 1948. Estava na Alemanha Oriental, cujo regime comunista valorizava, enquanto estava no exílio.

Logo, porém, deu-se conta do autoritarismo policialesco que vigorava nos países do bloco soviético: pelo fato de estar mal vestido e com a barba por fazer, foi barrado pela polícia na entrada de uma solenidade que seria dada justamente em sua homenagem, conforme relata o historiador Paul Johnson, no livro "Os Intelectuais".

Além disso, Johnson também registra que Brecht preferiu deixar os direitos autorais de suas peças a cargo de uma empresa suíça que lhe remetia clandestinamente grande somas de dinheiro.

Em 1949, com o apoio do governo da Alemanha Oriental, Bertolt Brecht fundou o "Berliner Ensemble", uma companhia de teatro que montava principalmente peças do autor. Dois anos antes de morrer, de ataque cardíaco, o dramaturgo iniciou a publicação de suas obras completas.
 








Lista de Preferências



Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.
Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexegüíveis.
Meninas, as Veras.
Mulheres, as insinceras.
Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.
Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.
Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.
Prazeres, os transparentes.
Projetos, os continentes.
Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.
Cores, o rubro.
Meses, o outubro.
Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.
Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.




Para quem tem uma boa posição social, / falar de comida é coisa baixa. / É compreensível: eles já comeram. 




Não conseguireis desgostar-me da guerra. Diz-se que ela destrói os fracos, mas a paz faz o mesmo. 


Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem. 


A vida é curta e o dinheiro também. 


Temam menos a morte e mais a vida insuficiente. 


De todas as coisas seguras, / a mais segura é a dúvida. 


O que não sabe é um ignorante, mas o que sabe e não diz nada é um criminoso. 


Quem não conhece a verdade não passa de um tolo; mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso! 


Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva. 


Miserável país aquele que não tem heróis. Miserável país aquele que precisa de heróis. 


Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la. 








DE AMOR

Mas, menina, vai com calma
Mais sedução nesse grasne:
Carnalmente eu amo a alma
E com alma eu amo a carne.

Faminto, me queria eu cheio
Não morra o cio com pudor
Amo virtude com traseiro
E no traseiro virtude pôr.

Muita menina sentiu perigo
Desde que o deus no cisne entrou
Foi com gosto ela ao castigo:
O canto do cisne ele não perdoou.
 





Ah! Desgraçados!

Um irmão é maltratado e vocês olham para o outro lado?
Grita de dor o ferido e vocês ficam calados?
A violência faz a ronda e escolhe a vítima,
e vocês dizem: "a mim ela está poupando, vamos fingir que não estamos olhando".
Mas que cidade?
Que espécie de gente é essa?
Quando campeia em uma cidade a injustiça,
é necessário que alguem se levante.
Não havendo quem se levante,
é preferível que em um grande incêndio,
toda cidade desapareça,
antes que a noite desça.





O Analfabeto Político

pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.










que tem fome e te rouba

O último pedaço de pão, chama-o teu inimigo

Mas não saltas ao pescoço

Do teu ladrão que nunca teve fome.






Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

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